Quem leva créditos sobre o que você faz?
Em um mundo onde a comunicação é a principal ferramenta que temos, aquele que se comunica bem sempre sairá na frente; e quem aquele que se comunica melhor acaba tendo maior impacto e reconhecimento do que quem gera mais resultados
Em uma das teorias mais fortes sobre a coexistência e extinção dos neandertais, Yuval Noah Harari disserta em seu livro “Sapiens” que os neandertais coexistiram com homo sapiens, mas uma capacidade neurológica fez uma espécie perecer diante da outra, a incapacidade de comunicar.
Sugere-se que, como os Neandertais não conseguiam se comunicar como os homo sapiens, eles não conseguiam responder as invasões em seus territórios, não conseguiam se organizar e eram incapazes de migrar com tanta eficiência quanto os novos primos genéticos, que por sua vez gozavam de uma das mais poderosas armas do reino animal, o córtex pré-frontal dotado de um poder cognitivo nunca antes visto.
A história não para por aí, também se sugere que a necessidade e capacidade de fofocar nos fez criar a diversidade de línguas que existem hoje. É possível sentir o poder da comunicação da nossa espécie observando como animais comunicam com seus bandos quando estão em perigo ou quando querem caçar. O som é único, objetivo, preciso. Agora, consegue imaginar um ser humano moderno contanto um momento de perigo que viveu? Parece que viveu um filme de ação estilo 007, com direito a todos os efeitos especiais.
Trazendo essa herança genética para o mundo corporativo, nosso comportamento não poderia ser diferente.
“A única maneira fácil de se tornar 50 por cento mais valioso do que você agora — pelo menos — é aprimorar suas habilidades de comunicação — tanto escrita quanto verbal”
Foi Warren Buffet que disparou esta máxima, e concordo precisamente.
A comunicação é a única habilidade que, independentemente de ser uma fraqueza ou força individual, precisa ser constantemente desenvolvida. Ensino a todos que leciono, ou para quem exerço um trabalho de mentoria, a importância de focarmos em nossas forças a maior parte do tempo, e como gerenciar nossas fraquezas. Entretanto, se qualquer um deles apontar comunicação como fraqueza, se torna a única incapacidade que sugiro não apenas gerenciar, mas investir em desenvolver.
Mais importante que os teus resultados é quem leva créditos sobre ele.
Faça um exercício rápido de criar consciência ao teu redor. Tente entender quem são as pessoas que mais são reconhecidas no teu time ou na empresa que você trabalha. Elas também se destacam por comunicar melhor que a maioria?
Agora, pense como você se sente em relação aos reconhecimentos que você recebe sobre os resultados que você gera? Você sente coerência, ou desequilíbrio?
Se a sensação for de desequilíbrio, dois problemas podem estar impedindo seu crescimento: sua comunicação e seu posicionamento.
Facilmente conseguimos ver líderes que conseguem conquistar pessoas com o poder de sua fala, mas que prática, pouco fazem. Em uma experiência profissional que tive, pude notar um perfil interessante de comunicador, que dominava a navegabilidade entre a diretoria, visto como um soldado fiel e condecorado por suas vitórias.
O problema é que, ouvindo a base de seu time, pude notar também outra faceta deste perfil. Era unânime entre seus liderados que os méritos créditos dados ao líder pela diretoria, eram, na verdade, projetos e conquistas alheias. Como a diretoria não descia para a base, o gap de comunicação gerava uma oportunidade única para fortalecer o posicionamento deste líder.
Esta falha é vista como uma prática comum em grandes e médias corporações, onde o middle management toma posse do controle da cultura e acaba deteriorando o pilar da empresa, podendo enfraquecer sua sustentabilidade.
Neste exemplo, podemos sentir como a comunicação é forte, e pode fortalecer até os que não geram resultados sólidos para a corporação.
Ademais, os resultados que você gera não são esquecidos ou não notados, eles podem estar sendo atribuídos a líderes que estão reportando resultados de forma que possa mascarar a origem deste, prejudicando o esforço e dedicação de quem os executou.
Como criar um ambiente onde a comunicação está alinhada ao resultado?
Quando trabalhei no Facebook, pude notar que uma das melhores formas de manter todos alinhados com o que estava acontecendo na bolha de cada um, seria enviando relatórios semanais de forma analítica, demonstrando o impacto daqueles projetos na corporação e no time de um possível stakeholder.
Na prática, enviava um e-mail por semana, geralmente numa sexta-feira, para todos os meus peers, meu time, e líderes de times que julgava ser importante ter visibilidade sobre meu trabalho. Vale lembrar que para uma comunicação ser eficiente ela precisa ser concisa, coerente e clara.
O título deve gerar sempre curiosidade, para se destacar entre os milhares de e-mails diários, e o corpo deve conter informações importantes para quem está lendo, por isso escolha bem seus destinatários, estrategicamente posicionados para saber quem é você e o que você anda executando e conquistando.
Esquema comunicacional
Aqui está uma das estruturas que eu utilizava para alinhar minha comunicação nas empresas:
O que incluir: impacto. Vitórias: crescimento de clientes; novos recursos de parceiros; negócios; aprendizados importantes no que se refere a um domínio de ecossistema ou de um parceiro que seria benéfico para Stakeholders.
O que não incluir: atividade; uma lista de atividades da equipe — (reuniões de parceiros, sessões de preparação e planejamento, etc.).
Formato:
Highlights: que oportunidades você está enfrentando? Qual é o seu progresso? Quaisquer ganhos são importantes (relacionamento, receita, etc)?
Lowlights: que desafios você está enfrentando interna e externamente? O que está atrapalhando o progresso?
Pessoas: reconhecimentos para as pessoas com quem você está trabalhando O que está acontecendo com você? Como anda tua vida fora da empresa?
O poder da comunicação
Esses pequenos pontos, e pequeno ato, me permitiam crescer diante dos olhos dos principais profissionais que tinham influência sobre o negócio que eu gerenciava.
A comunicação, portanto, se mostra como ambas, uma maneira de se proteger e proteger seus resultados e, principalmente, uma forma sólida de deixar claro os impactos do seu trabalho.
O No Brain No Gain Cast de número 113 traz ainda mais provocações e estratégias para que você possa se posicionar diante dos resultados que você gera dentro do teu trabalho.
Parafraseando e editando uma famosa fábula citada pelo analista norte-americano Don Montano, em seu artigo Leões ou Gazelas na The Economist de 1985, deixo para que reflitam sobre a verdadeira pedra fundamental de qualquer posicionamento:
“Toda manhã, na África, a gazela acorda. Ela sabe que precisa correr mais rápido que o mais rápido dos leões para sobreviver. Toda manhã um leão acorda. Ele sabe que precisa correr mais rápido que a mais lenta das gazelas senão morrerá de fome. Não importa se você é um leão ou uma gazela. Quando o sol nascer, comece a…” comunicar.
Autor: Wesley Barbosa
Saiu da periferia de Maceió e se tornou executivo do Facebook no Vale do Silício e Sócio da XP Investimentos. É o fundador da Become, empresa de educação executiva e corporativa. É professor de Neurociências, com aulas ministradas na quarta maior universidade do mundo, UC Berkeley, e Singularity University, ambas na Califórnia. Foi o executivo responsável por trazer o Baidu (o Google chinês) para a América Latina. Também liderou startups chinesas de games sociais, como o Colheita Feliz, e o idealizador da ONG chancelada pela ONU e acelerada por Stanford, Ajude o Pequeno.
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